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BRASÍLIA 


Favela mantida pelo voto 


A invasão da Estrutural surgiu da briga entre Joaquim Roriz e Cristovam Buarque e, em poucos anos, tornou-se um grave problema urbano 


No princípio, era o lixo. Em 1960, ano da inauguração de Brasília, um grupo de 30 famílias abrigou-se no aterro sanitário da cidade. O lixão foi instalado numa das margens da Via Estrutural, pista que liga o Plano Piloto a Taguatinga, cidade-satélite a 20 quilômetros da capital. Hoje, 15 mil pessoas vivem espremidas em 5 mil barracos. Homicídios, drogas e doenças contagiosas fazem parte da rotina dos favelados. A falta de saneamento criou riscos ambientais e parte dos invasores instalou-se em cima de um poliduto da Petrobrás por onde passam gás de cozinha, gasolina e óleo diesel. Há 2.500 cães vagando pelas ruas. Disputam comida com as crianças e os urubus.
A maior favela da capital é um enclave político. O líder da invasão, José Edmar Cordeiro, é hoje deputado distrital. Elegeu-se defendendo a legalização de ocupações irregulares de terra pública. Conta com o apoio do governador Joaquim Roriz. Em 1990, ao administrar o Distrito Federal pela primeira vez, Roriz incentivou o crescimento da favela. Em 1995, Cristovam Buarque, do PT, sucedeu-o. Estimuladas por promessa da campanha petista, em dois meses 1.500 famílias invadiram a Estrutural.
Quando era deputado distrital, o ex-senador Luiz Estevão aliou-se a José Edmar. Juntos, organizaram a Associação Pró-Criação da Vila Operária do Baixo Estrutural (Aproviles). Patrocinaram a distribuição de kits com madeira e lona para facilitar a ocupação da área. José Edmar está na Câmara Legislativa desde 1990. Estevão foi cassado em junho desse ano sob a acusação de desviar dinheiro público.
Em julho de 1997, quando quase 3 mil famílias já moravam no local, Cristovam mandou a Polícia Militar remover 700 novos barracos. Mais de 1.700 policiais entraram na Estrutural e foram repelidos a pau e pedra. A PM usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Cristovam instalou uma administração militar comandada por um major. Em agosto de 1998, o PM Rubens Gomes Farias foi assassinado na favela com um tiro na cabeça. A partir de então, José Edmar e Luiz Estevão denunciaram ações de represália da PM. “Cristovam não teve pulso para controlar as invasões na Estrutural”, afirma o deputado distrital Wasny de Roure, presidente regional do PT. “Mas os invasores foram manipulados para transformar a favela num problema político.” José Edmar quer manter a invasão intocada: “Se retirar a Estrutural, o governo atual vai falar o que contra o PT?” Roriz não estende os serviços públicos à favela com o argumento de que ainda não sabe se vai legalizá-la. Não há sistema de esgoto, escolas, postos de saúde nem água encanada. As crianças são usadas no tráfico de drogas. “É um quadro típico de ambiente de baixo nível cultural, alcoolismo e violência”, diz o delegado Luiz Andriano Guerra, que investiga os crimes na área.
O deputado José Edmar tem uma visão bucólica da favela. “Não há problemas ambientais e, por incrível que pareça, o pessoal que trabalha no lixão não fica doente”, afirma. Os relatórios do programa Saúde em Família, do governo do Distrito Federal, mostram uma realidade diferente. O lixo tem provocado doenças de pele, como erisipela e sarna. A presença de cães vadios e porcos provocou uma epidemia de pulgas e bichos-de-pé. Há casos de bronquite, tuberculose, hanseníase, doenças venéreas e Aids. Apenas um médico atende os 15 mil moradores. A média de atendimento de saúde no Brasil é 1,34 médico para cada grupo de 1.000 habitantes. No Distrito Federal, fora das favelas, é 2,78 por 1.000 – a maior do país.







Monumento ao ódioObra de R$ 200 mil foi paga por adversários do PT





  • O Museu do Sangue reúne fotografias e depoimentos sobre ação da PM em 1997
















  • Bombas e cartuchos de bala fazem parte do acervo na favela da Estrutural
















  • Um vídeo mostra imagens da violência policial. As fitas eram da campanha de Roriz

















  • Território inimigoAudácia de bandidos intimida moradores e policiais





  • Três homens cuidam da segurança de 15 mil pessoas
















  • O medo de tocaia impede rondas noturnas e a PM só entra na favela em comboios














  • O posto policial foi queimado e alvejado por marginais. O reforço mais próximo está a 15 quilômetros e não há radiotransmissor











  • Leandro Fortes, de Brasíli
    Fonte: Revista Época Edição 122 de 18/09/2000